28 de jul. de 2011

Todo o meu amor a Chico Buarque

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Confesso que ando meio preguiçosa com as novas músicas nacionais. Estamos na era do “Você, você, você, você, você, você, você quer?”  e isso é desesperador. Ai que saudades de uma boa música! Vivemos uma entressafra que parece ser eterna! A nova geração regrava músicas antigas e os bons letristas já não tem uma produção tão fecunda...

Felizmente, nem tudo está perdido, Chico Buarque está melhor que nunca! Ele nos presenteou com dez músicas maravilhosas no CD que leva o seu nome Chico. Não tenho a pretensão de fazer crítica ao trabalho de tão grande compositor e intérprete, apenas teço algumas considerações sobre as músicas. Na verdade foi a forma que achei de estar mais perto dele, que além de tudo anda mais lindo do que nunca!

Em Rubato, me faz sentir inveja de Teodora... como eu queria receber tão delicada canção de amor. Senti um pouco a agonia que a cópia causa em um criador. Mesmo indiretamente é possível perceber uma crítica a aqueles que copiam obra alheia e vão “cantando sem pudor”.

Tipo um baião mostra um Chico bem próximo à nova geração que faz uso do jargão “tipo assim” o tempo todo. O diário informal (http://www.dicionarioinformal.com.br) diz que o termo é utilizado quando o interlocutor não tem o domínio do assunto em questão. Porém o que vemos na música é exatamente o contrário! Chico fala do que mais sabe falar: o amor! Essa letra é a cara de uma adolescente e agrada perfeitamente a uma balzaquiana... Chico Buarque brinca com as palavras e mantém o dom de seduzir as mulheres em qualquer idade!

Se eu soubesse traz uma voz feminina que muito bem nos representa! Ouvimos nas músicas de Chico lindos galanteios, palavras doces que fazem com que a mulher se sinta plenamente amada. Essa canção faz exatamente o que as fãs de Chico mais gostariam de fazer... falam pra ele o quanto ele é irresístivel.

Sem você nº 2 é poema, é doce, é belo, é sensível. Com linguagem simples demonstra a produndesa do sentimento, da solidão em decorrencia da ausencia do ser amado.

Sou eu em parceria com Ivan Lins mostra uma mulher sensual, musa dos bons sambistas, exalta a sensualidade feminina sem romper a línha tênue da vulgaridade. Sou eu é bem apropriada para esse momento cultural em que há uma reafirmação do  arquétipo da mulher objeto.  

Nina é uma delicada história de amor vivida à distância, virtual. Através de uma descrição sinestésica nos aproxima do clima que existe entre ele e Nina. Há um apelo visual: a cor da pele e dos olhos da amada e apelo gustativo: a vodca, que tem gosto forte e entra em oposição ao clima ameno e delicado da narrativa. A descrição que ele faz do que pode ver da tela me lembra muito o Google maps, ou seja, pela tela do computador o narrador pode ver a “cidade, o bairro, a chaminé da casa dela” e na seqüência “imaginar por dentro a casa, A roupa que ela usa, as mechas, a tiara” e até “adivinhar a cara que ela faz” quando escreve. Isso é maravilhoso! Como o uso das palavras nos remete a um ambiente fictício e sentimos, vivemos o que o ele nos conta!

Barafunda é o que o nome diz que é: uma confusão uma bagunça, porém ao estilo de Chico! Várias mulheres: Aurora, Aurélia, Ariela, Glorinha, Maristela, Soraia, Anabela, Aurora e Barbarela. Tem vários locais: Penha, Glória, Penha e até Cazaquistão. Mistura de cores: saia amarela, cabelos pretos, bandeiras vermelhas, azul da Terra, verde e rosa, dia azul e manto cinzento. Mistura futebol, carnaval, guerra, ida do homem à lua, ecologia com “salve a floresta”, poesia e samba. Jogadores de futebol: Garrincha, Zizinho e Pelé. Homenageia Cartola e Mandela e a sua escola de samba do coração: Mangueira. Tamanha miscelânea poderia não dar em nada, mas como na teoria do caos, do imprevisível e caótico pode surgir algo e neste caso algo mágico, maravilhoso como esta música!

Ouvi na entrevista de bastidores (http://www.chicobastidores.com.br/) que Chico Buarque fez um estudo sobre o uso do vosmecê, vosmincê, vassuncê e vossa mercê, nada na obra dele é por acaso. Essa música me lembrou muito as novelas de época, como Escrava Isaura e Sinhá Moça. Achei tão lindo quando Chico diz “Com olhos tão azuis, me benzo com o sinal, da santa cruz.”

Termino falando da primeira música do CD, Querido diário, ouvi esta música de manhã, a caminho do trabalho. Fiquei tão tocada com a sensibilidade de Chico Buarque. Meu pensamento foi: como um homem pode ter uma obra tão fecunda, tão rica e mesmo após tantos anos de criação não se esgotar a sua capacidade de criação!? Identifiquei-me tanto com essa música que é como se fosse uma página do meu próprio diário. Meu querido autor materializou toda a dualidade que perpassa em minha mente e que nem eu mesma consigo verbalizar. Amigo e inimigo, carinho e tocaia, religião e sacrifício, amor e choro... como eu amo o Chico!

Para ilustrar, deixo a terceira faixa, a mesma fala por si só: Minha Pequena.

Essa Pequena
Composição: Chico Buarque

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Meu tempo é curto, o tempo dela sobra
Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora
Temo que não dure muito a nossa novela, mas
Eu sou tão feliz com ela

Meu dia voa e ela não acorda
Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida
Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas
Não canso de contemplá-la

Feito avarento, conto os meus minutos
Cada segundo que se esvai
Cuidando dela, que anda noutro mundo
Ela que esbanja suas horas ao vento, ai

Às vezes ela pinta a boca e sai
Fique à vontade, eu digo, take your time
Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas
O blues já valeu a pena


Referências:

Imagem 1: http://www.sweetslyrics.com/images/img_gal/2036_chico_buarque.jpg
Imagem 2: http://www.chicobastidores.com.br


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